A crise do outro


Ao começar este blog, comentei que seu objetivo é ajudar as pessoas a passarem por essas benditas crises espirituais, tão essenciais porque nos purificam e provam no fogo de diversas provações. Elas nos tornam mais humanos, mais verdadeiros, mais... mais o que realmente somos.

Mas hoje o foco do post é “a crise do outro” e não a nossa própria.

O que fazer para ajudar uma pessoa em crise? - é uma boa pergunta. A resposta não está toda aqui, é claro... este texto é uma tentativa de esboçar as linhas gerais desta situação.

Em primeiro lugar: uma pessoa em crise pode ser insuportável 
Maldade minha? Acho que não: pense em si mesmo quando está numa crise! Pois é; não é fácil ter por perto uma pessoa em crise... porque é nas dificuldades que a gente se revela. Quando está tudo bem, temos em geral um semblante agradável, levamos as coisas numa boa... Mas se o calo está doendo, nada está bom: reclamamos porque a chuva molha e o fogo queima,... enfim, a pessoa não é razoável, reage a tudo de maneira exagerada. Isso acontece em parte porque ela se sente ferida e quer atenção, quer alívio para sua dor. Como essa dor só será curada por Aquele que a provocou, só podemos ajudar relevando os excessos de comportamento da pessoa e rezar para que ela se submeta ao processo da crise e, suportando todos os incômodos, consiga obter os frutos que Deus lhe preparou nessa etapa.

Em segundo lugar: você não pode sofrer a crise por ela
Não é possível liberar alguém desse processo de crise. O máximo que se pode fazer é sofrer junto e pedir a intercessão de Nossa Senhora, apresentar tudo diante do Senhor no Sacrário. E ter paciência para que a pessoa tenha o seu tempo com Deus para curar o que precisa ser curado. Aceite sua própria incapacidade de ajudá-la nesse momento: é Deus agindo. Só interfira naquilo que o Espírito Santo lhe indicar, o que costuma ser muito pouco e bem pequeno: uma pergunta que orienta a reflexão, um conselho que mais parece um bote salva-vidas em momentos mais críticos. Mas não espere agradecimentos, especialmente quando você acaba lhe revelando uma verdade interior: é mais fácil que a pessoa fique furiosa e lhe diga que você não entendeu nada, que você não é o dono da razão. Ela própria poderá estar espantada com o que vem descobrindo em si mesma e rapidamente procura negar a verdade que lhe foi revelada, ainda mais quando ela é confirmada por outra pessoa. É um processo delicado. Por isso, na maior parte das vezes, dê somente o silêncio atencioso que acolhe as angústias, dores e revoltas. E deixe Deus fazer Seu papel de Pai que corrige, cura, liberta e salva!

Aprendendo a fazer as perguntas certas


Um dos objetivos das crises é nos fazer encarar a verdade a respeito de nós mesmos. É perda de tempo querermos nos poupar como se fôssemos a coisa mais linda, sincera e pura da face da terra, porque esse tipo de ilusão não serve pra nada de bom - só massageia nosso ego. A verdade sobre qualquer pessoa é a verdade do pecado original: queremos ser como Deus. De fato, muitas vezes agimos e reagimos como deuses de nosso próprio universo.

Como já comentei em outros posts, uma crise não servirá para nosso crescimento espiritual se não aprendemos algo com ela. Se saímos de uma crise do mesmo tamanho com que entramos, foi porque certamente nos recusamos a abrir o coração e a mente para uma nova visão que Deus desejava nos conceder. Uma crise salutar sempre nos colocará no nosso devido lugar: de criatura dependente do Criador.

Não é difícil aprender a aproveitar esses momentos. Por exemplo, quando estamos em uma crise cheia de questionamentos, o melhor modo de aproveitá-la é fazer as perguntas certas. Especificamente, quando nossos questionamentos são do tipo:

  • “Por que não pode ser como eu quero?”, ou 
  • “Por que não posso ter isto e aquilo ao mesmo tempo?”, ou mais declaradamente: 
  • “Por que a escolha pela vontade de Deus exclui a minha?”,
temos uma oportunidade incrível para virar a mesa da crise com perguntas que realmente interessam:
  • “Por que tem que ser como eu quero?”
  • “Por que eu tenho que ter isto e aquilo ao mesmo tempo?”
  • “Por que acho que a minha vontade é melhor que a vontade de Deus para mim?” 
Portanto, se você está disposto a encarar a verdade sobre si mesmo, faça as perguntas certas. E aproveite as crises para crescer para Deus!

A esperança do estepe


Há umas crises em que a gente precisa desenvolver uma coisa a que hoje chamei “esperança do estepe”. Na maioria dos modelos de carros a gente nem vê o estepe; só se lembra dele na hora de viajar, praticamente. Mas ele tem que estar lá.

Fiquei imaginando que a esperança de um pneu estepe é ser usado um dia. Mas então pensei: na verdade ele não deve ficar ansioso para que um outro pneu fure, porque se devido a isso acontece um acidente, dificilmente ele vá ser realmente usado. Então ele fica naquela crise existencial: “tô aqui, ninguém se lembra de mim, ninguém me enxerga (e se me enxerga, apenas faço parte do modelo do carro)... que coisa mais inútil!”

Não é bem assim, porque motorista que roda sem estepe ou com estepe em mau estado se arrisca a levar ponto na carteira. Então não tem muito jeito: por menos que se olhe pra ele, ele tem que estar ali, tem que ser mantido em ordem e pronto para ser eventualmente usado.

Enquanto eu desenvolvia esta teoria, acabei me lembrando de São Paulo: sentia-se ansioso para ir logo pregar, depois foi se acalmando, amadurecendo... e, mesmo sentindo-se pronto, não deu um passo sequer antes que a Igreja o enviasse em missão.

O paralelo funcionou bem na minha cabeça; não sei se serviu para a sua: o estepe tem que fazer sua parte, simplesmente se preparando. Quase nunca é usado, e se é num modelo de carro que o deixa exposto, toma sol, chuva, e ocasionalmente leva umas espremidas nas garagens estreitas. Mas tem que estar ali. Ainda que se sinta inútil, precisa estar no seu lugar, a postos, preparado para entrar em ação e cumprir seu papel. Na hora certa.

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