A esperança do estepe

Há umas crises em que a gente precisa desenvolver uma coisa a que hoje chamei “esperança do estepe”. Na maioria dos modelos de carros a gente nem vê o estepe; só se lembra dele na hora de viajar, praticamente. Mas ele tem que estar lá.

Fiquei imaginando que a esperança de um pneu estepe é ser usado um dia. Mas então pensei: na verdade ele não deve ficar ansioso para que um outro pneu fure, porque se devido a isso acontece um acidente, dificilmente ele vá ser realmente usado. Então ele fica naquela crise existencial: “tô aqui, ninguém se lembra de mim, ninguém me enxerga (e se me enxerga, apenas faço parte do modelo do carro)... que coisa mais inútil!”

Não é bem assim, porque motorista que roda sem estepe ou com estepe em mau estado se arrisca a levar ponto na carteira. Então não tem muito jeito: por menos que se olhe pra ele, ele tem que estar ali, tem que ser mantido em ordem e pronto para ser eventualmente usado.

Enquanto eu desenvolvia esta teoria, acabei me lembrando de São Paulo: sentia-se ansioso para ir logo pregar, depois foi se acalmando, amadurecendo... e, mesmo sentindo-se pronto, não deu um passo sequer antes que a Igreja o enviasse em missão.

O paralelo funcionou bem na minha cabeça; não sei se serviu para a sua: o estepe tem que fazer sua parte, simplesmente se preparando. Quase nunca é usado, e se é num modelo de carro que o deixa exposto, toma sol, chuva, e ocasionalmente leva umas espremidas nas garagens estreitas. Mas tem que estar ali. Ainda que se sinta inútil, precisa estar no seu lugar, a postos, preparado para entrar em ação e cumprir seu papel. Na hora certa.

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