Retrospectiva 2010


Quando começa este período de retrospectivas do ano, a impressão é de que muita coisa ruim aconteceu. Espiritualmente, então, nem se fale: a gente só se lembra das mancadas, das quedas fenomenais, das “surras” levadas e de tudo o que ainda não funciona direito na nossa vida.

Mas é tudo uma questão (digo mais uma vez) de fazermos as perguntas certas. Não é brincar de “jogo do contente”, e sim ter a corajosa atitude de olhar de frente para o que parecem ser apenas ruínas e se propor a avaliar melhor o caminho percorrido.

Elaborei para mim algumas perguntas para essa auto-avaliação, que partilho aqui com vocês (só as perguntas, não minhas respostas! rs...). Lembro aos leitores que sou de uma Comunidade de Vida, por isso estas questões talvez pareçam meio fora do comum. Mesmo assim, vale a pena se questionar isto mesmo:

- O que aprendi sobre obediência? ...sobre humildade? ...sobre pureza de intenções? Como vivi isso?
- O que aconteceu quando minhas iniciativas seguiram o meu próprio querer?
-  O que aconteceu quando enfrentei a vontade de Deus com a minha própria?
- O que eu ainda não aceito? (em mim, nos outros?) 
Estas perguntas são bastante incômodas, mas acredito que não vale a pena ficar insistindo em coisas que não funcionam. Por outro lado, há situações que não mudam, e assim o que precisa mudar é o nosso olhar sobre elas. É bom se perguntar por que, entra ano, sai ano, não acontecem mudanças pessoais.

Virar a folhinha de dezembro para janeiro não significa muita coisa, quando não queremos mudar nada. Mas se estamos dispostos a uma mudança, a virada da folhinha significa bem mais do que começar um ano novo.

Só notícia ruim?


Esta semana eu me questionei se alguém, entre os que seguem este blog, estaria se perguntando (novamente) o porquê do nome dele ser “Benditas crises”. Afinal de contas, até o momento parece que não se falou de nada realmente bom relacionado às crises: só descobrimos que somos orgulhosos, miseráveis, pecadores, e que nem nossas atitudes boas têm uma intenção realmente pura. Nesse ponto se começa a pensar se vale a pena tudo isso, ou se das crises só podemos esperar mesmo notícias ruins a respeito de nós mesmos.

Uma coisa importante é perceber que esse processo de crises espirituais é realmente isso: espiritual. É um processo de amadurecimento espiritual, de crescimento na plenitude do que se é. As coisas de que você gosta, aquilo que o atrai, o que aquece seu coração e o que o deixa indignado, tudo isso tem um motivo mais profundo. Alguns aspectos precisam de refinamento, mas outros fazem parte do seu ser original, isto é: são manifestações autênticas da pessoa que Deus planejou ao criar você. O objetivo dessas crises é conseguir, que o seu “eu autêntico”, querido por Deus, enfim se manifeste o máximo possível. Apesar da dor desse processo, você também experimenta grandes alegrias, atinge altos níveis de realização humana ao conseguir ser um pouco mais “você mesmo”.

Esse processo é para todos. Apenas alguns chegam a purificações mais profundas, heróicas. Não se preocupe a respeito de detalhes do seu processo: abrace-o! Ouse querer ser a pessoa sonhada por Deus quando criou você. Perceber que essa possibilidade existe e está ao seu alcance, é uma das melhores notícias que se pode ter.

Por quê?...


Parte do nosso sofrimento se deve ao orgulho. Não adianta me responder que não é o seu caso, porque é só analisar um pouco e constatar que o pecado original está aí em você também.

Perguntar o “por quê” de uma crise, não deixa de ser orgulho. É uma pretensão de sermos capazes de entender aquilo que não nos cabe saber, pelo menos naquele momento.

Tantas situações, às vezes até esdrúxulas e sem sentido algum, e que nos causam tanta dor, angústia, desespero, só farão sentido muito tempo depois. E boa parte delas só fará sentido realmente quando estivermos diante de Deus. Então pensaremos: “Ah, mas então era por isso!...” ou “Ah, mas era só isso!...”


Ficamos acostumados aos mocinhos do cinema, que resolvem tudo imediatamente, na pancada, explodindo tudo e arrebentando o vilão. Nossos instintos se sentem todos satisfeitos com essa noção de justiça (que acaba sendo uma vingança) e com esse modo de resolver as coisas num turbilhão de reações violentas. Mas quando algo nos acontece e nos sentimos feridos, incapazes de explodir alguma coisa para tentar aliviar nosso sofrimento, todo nosso ser questiona a Deus, com a pergunta errada: “Por quê?”

É esse o momento de fazermos as perguntas certas, que nos levam para cima, elevam nosso espírito: Como Deus vê essas situações? Qual o significado desses acontecimentos todos no plano espiritual? O que esses fatos nos ensinam? O que eu devo aprender com isso? O que Deus espera de mim com esta situação?

Enquanto não entendemos, peçamos a Deus que ao menos aceitemos aquilo que tão incompreensivelmente acontece. Esse é um ato de fé importante. Rezemos ao Senhor: ajuda-me a aceitar, ensina-me o que preciso aprender com tudo isto; faz com que eu aja e responda como desejas neste momento. Ajuda-me, Senhor, nesta provação!

Rezemos como os discípulos de Emaús: Fica comigo, Senhor, porque a noite da provação se aproxima e me envolve. E, na companhia dEle, já não perguntaremos mais nada. Viveremos tudo no amor.

Reações infantis


Antes de começar, lembro ao leitor que este blog não é sobre educação de crianças, mas comentários sobre crises espirituais. O termo infantil, neste caso,está se referindo a reações não amadurecidas. Isto explicado, começamos nossa conversa de hoje!


Reações infantis denunciam crises, e alguns momentos de crise disparam reações infantis. As duas situações são importantes. Vejamos a diferença:


Reações infantis denunciam crises

Nesta situação, nós nos vemos excessivamente irritados, por exemplo, ao não conseguirmos algo que queremos - seja algo importante ou não. Bem, como estamos falando francamente sobre crises, vou corrigir: ficamos excessivamente irritados ao não conseguirmos algo que queremos e que não é importante. Simplesmente isso: queremos algo; não conseguimos ter; ficamos emburrados, feito criancinha contrariada. O ego ferido lateja e a reação egocêntrica denuncia a situação. Não olhe a palha no olho de seu irmão, não... analise um pouquinho como foi a última vez em que o atraso de alguém fez você esperar, de olho no celular a cada minuto e meio. E me diga qual o tamanho da tromba que você armou quando o ímpio vilão de seu tempo chegou atrasado! O atraso até pode ter sido justificado, e o compromisso não era nenhuma cirurgia cerebral. Mas, para você, foi um crime de lesa-majestade, sem dúvida...

- Opa! Espere aí: esse tipo de reação indica uma crise???
Sim, gente! Uma reação desproporcional à situação sempre indica que algo não está bem. Lembram-se de que é nas pequenas coisas que a gente se revela? Hoje em dia não se liga mais para isso, a educação em família não chega até esses detalhes (mal se ensina como usar o banheiro direito), e as pessoas reagem mal a qualquer coisa que as incomoda. Isso é sinal de crise, de doença espiritual a ser curada. Mas como não se liga para isso - porque virou algo normal - a crise não é resolvida e se fica numa espiral crescente de maus comportamentos - e, em decorrência, de uma crescente infelicidade fictícia, porque nada demais acontece com a pessoa mas ela está sempre reclamando porque tudo a incomoda, nada dá certo como ela deseja. Por pouca coisa o indivíduo barbado fica  transtornado, faz um show, berra com a mãe... uma beleza! Isso acontece também com jovens senhoras, é claro. Relembro que não estou incluindo aqui transtornos e doenças psíquicas, mas prestem atenção a esses sinais de irritação e a frequência com que são emitidos. O que acontece quando você é contrariado? Avalie a situação e considere a importância do que o contraria. É para tanto?

É francamente inadmissível continuar alimentando este tipo de comportamento, como se fosse um ser especial que não pode ser contrariado, que não pode ficar sem ter as coisas, que precisa ter tudo do seu jeito.

Poderemos cair neste comportamento, sim: mas por deslize, por fraqueza, e não por aceitarmos isto como um modo de ser! É um vício abominável contra o amor! 

Renúncia e penitência são palavras-chave para controlar esta terrível doença. Atenção aos sinais.


Momentos de crise disparam reações infantis

Já esta situação está associada a traumas. Quando a pessoa se vê envolvida num fato que a faz reviver um trauma passado, ela reage na mesma idade emocional que tinha quando viveu o trauma original. Ela pode ser equilibrada em outras circunstâncias até mais complicadas, mas naquele cenário específico sua reação está cristalizada no tempo. Isso indica que o trauma não foi superado ainda; não foi resolvido. A pessoa não cresceu naquele ponto específico, relacionado ao trauma. Por isso ela revive as coisas com os sentimentos não amadurecidos, com um sofrimento desproporcional ao fato corrente. Sente-se desamparada, a tal ponto que tenta se esconder, foge! Reage de fato como uma criança. Torna-se uma criancinha num corpo de adulto.

Mas, se nesse momento a pessoa tem a graça de parar um momento e analisar que agora ela é um adulto, que a situação de hoje não é exatamente aquela do passado, embora se assemelhe muito... Se ela consegue se levantar e olhar - com os olhos de adulto - o fato atual, poderá descobrir que é capaz de passar por aquilo. E que, embora no passado tenha sofrido algo parecido, muito profundamente, ela sobreviveu; diante daquilo que se passou em sua infância, o momento presente também pode ser vencido, superado ou acolhido, compreendido, vivido. A vivência amadurecida da situação atual poderá curar o trauma do passado e resolver muitas circunstâncias decorrentes: terá mais tranquilidade para ser o que se é, ganhará mais auto-confiança, segurança para enfrentar novos desafios, e, sobretudo, renovada fé em Deus, pois enfim reconhecerá Sua presença amorosa também naquele fato de sua vida passada.

A crise do outro


Ao começar este blog, comentei que seu objetivo é ajudar as pessoas a passarem por essas benditas crises espirituais, tão essenciais porque nos purificam e provam no fogo de diversas provações. Elas nos tornam mais humanos, mais verdadeiros, mais... mais o que realmente somos.

Mas hoje o foco do post é “a crise do outro” e não a nossa própria.

O que fazer para ajudar uma pessoa em crise? - é uma boa pergunta. A resposta não está toda aqui, é claro... este texto é uma tentativa de esboçar as linhas gerais desta situação.

Em primeiro lugar: uma pessoa em crise pode ser insuportável 
Maldade minha? Acho que não: pense em si mesmo quando está numa crise! Pois é; não é fácil ter por perto uma pessoa em crise... porque é nas dificuldades que a gente se revela. Quando está tudo bem, temos em geral um semblante agradável, levamos as coisas numa boa... Mas se o calo está doendo, nada está bom: reclamamos porque a chuva molha e o fogo queima,... enfim, a pessoa não é razoável, reage a tudo de maneira exagerada. Isso acontece em parte porque ela se sente ferida e quer atenção, quer alívio para sua dor. Como essa dor só será curada por Aquele que a provocou, só podemos ajudar relevando os excessos de comportamento da pessoa e rezar para que ela se submeta ao processo da crise e, suportando todos os incômodos, consiga obter os frutos que Deus lhe preparou nessa etapa.

Em segundo lugar: você não pode sofrer a crise por ela
Não é possível liberar alguém desse processo de crise. O máximo que se pode fazer é sofrer junto e pedir a intercessão de Nossa Senhora, apresentar tudo diante do Senhor no Sacrário. E ter paciência para que a pessoa tenha o seu tempo com Deus para curar o que precisa ser curado. Aceite sua própria incapacidade de ajudá-la nesse momento: é Deus agindo. Só interfira naquilo que o Espírito Santo lhe indicar, o que costuma ser muito pouco e bem pequeno: uma pergunta que orienta a reflexão, um conselho que mais parece um bote salva-vidas em momentos mais críticos. Mas não espere agradecimentos, especialmente quando você acaba lhe revelando uma verdade interior: é mais fácil que a pessoa fique furiosa e lhe diga que você não entendeu nada, que você não é o dono da razão. Ela própria poderá estar espantada com o que vem descobrindo em si mesma e rapidamente procura negar a verdade que lhe foi revelada, ainda mais quando ela é confirmada por outra pessoa. É um processo delicado. Por isso, na maior parte das vezes, dê somente o silêncio atencioso que acolhe as angústias, dores e revoltas. E deixe Deus fazer Seu papel de Pai que corrige, cura, liberta e salva!

Aprendendo a fazer as perguntas certas


Um dos objetivos das crises é nos fazer encarar a verdade a respeito de nós mesmos. É perda de tempo querermos nos poupar como se fôssemos a coisa mais linda, sincera e pura da face da terra, porque esse tipo de ilusão não serve pra nada de bom - só massageia nosso ego. A verdade sobre qualquer pessoa é a verdade do pecado original: queremos ser como Deus. De fato, muitas vezes agimos e reagimos como deuses de nosso próprio universo.

Como já comentei em outros posts, uma crise não servirá para nosso crescimento espiritual se não aprendemos algo com ela. Se saímos de uma crise do mesmo tamanho com que entramos, foi porque certamente nos recusamos a abrir o coração e a mente para uma nova visão que Deus desejava nos conceder. Uma crise salutar sempre nos colocará no nosso devido lugar: de criatura dependente do Criador.

Não é difícil aprender a aproveitar esses momentos. Por exemplo, quando estamos em uma crise cheia de questionamentos, o melhor modo de aproveitá-la é fazer as perguntas certas. Especificamente, quando nossos questionamentos são do tipo:

  • “Por que não pode ser como eu quero?”, ou 
  • “Por que não posso ter isto e aquilo ao mesmo tempo?”, ou mais declaradamente: 
  • “Por que a escolha pela vontade de Deus exclui a minha?”,
temos uma oportunidade incrível para virar a mesa da crise com perguntas que realmente interessam:
  • “Por que tem que ser como eu quero?”
  • “Por que eu tenho que ter isto e aquilo ao mesmo tempo?”
  • “Por que acho que a minha vontade é melhor que a vontade de Deus para mim?” 
Portanto, se você está disposto a encarar a verdade sobre si mesmo, faça as perguntas certas. E aproveite as crises para crescer para Deus!

A esperança do estepe


Há umas crises em que a gente precisa desenvolver uma coisa a que hoje chamei “esperança do estepe”. Na maioria dos modelos de carros a gente nem vê o estepe; só se lembra dele na hora de viajar, praticamente. Mas ele tem que estar lá.

Fiquei imaginando que a esperança de um pneu estepe é ser usado um dia. Mas então pensei: na verdade ele não deve ficar ansioso para que um outro pneu fure, porque se devido a isso acontece um acidente, dificilmente ele vá ser realmente usado. Então ele fica naquela crise existencial: “tô aqui, ninguém se lembra de mim, ninguém me enxerga (e se me enxerga, apenas faço parte do modelo do carro)... que coisa mais inútil!”

Não é bem assim, porque motorista que roda sem estepe ou com estepe em mau estado se arrisca a levar ponto na carteira. Então não tem muito jeito: por menos que se olhe pra ele, ele tem que estar ali, tem que ser mantido em ordem e pronto para ser eventualmente usado.

Enquanto eu desenvolvia esta teoria, acabei me lembrando de São Paulo: sentia-se ansioso para ir logo pregar, depois foi se acalmando, amadurecendo... e, mesmo sentindo-se pronto, não deu um passo sequer antes que a Igreja o enviasse em missão.

O paralelo funcionou bem na minha cabeça; não sei se serviu para a sua: o estepe tem que fazer sua parte, simplesmente se preparando. Quase nunca é usado, e se é num modelo de carro que o deixa exposto, toma sol, chuva, e ocasionalmente leva umas espremidas nas garagens estreitas. Mas tem que estar ali. Ainda que se sinta inútil, precisa estar no seu lugar, a postos, preparado para entrar em ação e cumprir seu papel. Na hora certa.

A respeito de Liberdade e Paraíso


A coincidência da nomenclatura dos bairros e sua posição na cidade já fez com que esta foto aparecesse numa porção de blogs com este assunto. Em especial porque a placa sugere - assim como certo pensamento dominante - que escolher o caminho da liberdade é ir na contramão do Paraíso.

E aí poucos se interrogam: afinal, o que é liberdade? o que é o Paraíso?

Muitos têm uma noção bem terrena de Paraíso, como se fosse uma condição de mundo em que tudo funciona direito, onde as leis são seguidas e a justiça reina.

Para outros, Paraíso significa um tédio completo, onde nada acontece e todos os anjinhos e santos ficam flutuando de um lado para outro, alheios a qualquer coisa que acontece no mundo, e todos com aquele ar de bem-aventurança extra-terrena dos quadros antigos (de não sei que século).

Liberdade é outra coisa que não se conhece direito. A ideia geral é que liberdade é “independência” (mas hein?), é fazer o que der na cabeça, simplesmente seguindo uma vontade interior regida por... sabe-se lá pelo quê. Mas o ideal de quem segue essa definição de liberdade é a anarquia, a desconstrução, o caos. Obviamente, caindo na ilusão de desconsiderar que a consequência dessa falsa liberdade é a auto-destruição.

Ao olhar para essa foto, alguns conseguiram atingir a ousadia de perguntar:
- Mas não é possível ter os dois?
Claro que sim. Vivendo a verdadeira Liberdade, temos também um gosto antecipado do verdadeiro Paraíso. Se somos verdadeiramente livres, vivemos uma condição que será plenamente satisfeita no Paraíso.

A liberdade verdadeira é viver os mandamentos de Deus. Nosso problema é que temos um conceito iluminista de liberdade: no fundo, aceitamos a ideia de que a religião “oprime”! O que de fato nos oprime e tira nossa liberdade é o pecado. É o pecado que está na contramão do Paraíso.

Inquietações e incômodos


Nossas crises nos permitem somar experiências e marcar o caminho dos - digamos - diagnósticos de crise. Essa somatória é de uma riqueza imensa, é como se nossos olhos fossem se abrindo bem devagarinho para as realidades da vida. Refletimos, comparamos, damos um passo, experimentamos.

Um erro comum é não darmos atenção às inquietações que nos atormentam. Coincidentemente, hoje me deparei com dois conteúdos (um artigo e um áudio) que falavam sobre inquietação. Essas duas fontes passavam basicamente esta mensagem: a inquietação é uma graça; e as crises são um despertar.

Suponhamos que você está dormindo num barquinho próximo à margem de um riacho. As águas fazem aquele barulhinho que acalma e embala o sono. Aos poucos as águas começam a fazer mais barulho e começam a perturbar seu sono, até que de repente você acorda assustado e a tempo, pois o barquinho havia se soltado da margem e já estava perto de uma corredeira pedregosa! Aí se tem, graficamente, a importância da inquietação e da crise.

Se não damos atenção à inquietação, a crise nos engole. 

A inquietação tem um papel importante porque nos aponta que algo não está certo. O problema é que facilmente identificamos a causa da inquietação em algum agente externo e não em nós mesmos! Se estamos em desequilíbrio, em desarmonia com Deus, precisando de confissão, essas irritações nos perturbam mais que uma vuvuzela soprada no silêncio de uma biblioteca: ficamos agitados, incomodados no último, e queremos que a coisa cale a boca. Já vamos xingando, sentindo o eco da corneta ressoar no cérebro. Mas nos esquecemos de analisar o motivo da irritação: foram os decibéis no tímpano, foi o susto, ou o quê? Sendo mais clara: reagimos à irritação e ao incômodo espiritual de maneira instintiva e não de maneira espiritual. Deixamos passar a oportunidade de aprender algo com o que nos incomoda. E se o incômodo não nos acorda para o fato de que há algo errado, a crise vai tornar isso bem nítido.

Por tudo isso, o que nos inquieta e incomoda não pode ser rejeitado como algo que não tem nada a ver conosco: precisa ser avaliado, analisado. Por que há coisas que nos incomodam e não incomodam outras pessoas? Por que, sem motivo aparente, o jeito de uma pessoa falar sobre um assunto nos irrita profundamente? Deve haver algum motivo, e raramente a causa disso está no outro: está mesmo em nós. E qual o significado disso? Não é tanto pelo que o outro diz, nem pelo modo de falar, mas é a maneira pela qual recebo o que é dito. Quais conclusões tiro daquilo que ouço e do que fazem? São conclusões corretas ou sou eu que fico interpretando tudo de acordo com o que eu acho que é? Estar errado me incomoda? Ver que os outros conseguem fazer o que está fora de minha capacidade me irrita?

É preciso analisar, identificar as causas, pôr em questão, e tirar disso algumas lições que nos levem um passinho adiante.

Em busca da felicidade


Quando se suspira por felicidade, em geral se suspira por algo que nunca está no mesmo lugar em que nós estamos, seja temporal ou fisicamente. Como se felicidade estivesse sempre “lá longe”; “lá” onde estive ou “lá” onde não estou ainda. Então tentam nos animar com frases que não ajudam em nada e ainda nos fazem sentir culpados por não nos sentirmos felizes sempre.

O mito da felicidade que vivemos hoje tem muito a ver com a cultura atual, e basicamente nos ataca em dois pontos principais:
  1. aponta nosso objetivo de felicidade como um estado em que nada de errado nos acontece.
  2. afirma que o caminho para atingir esse objetivo é pelas coisas sensíveis.

Eu usei a expressão «nos ataca» porque esses dois pontos são de fato um ataque, um atentado à nossa razão e à nossa natureza humana. Pois, seguindo fielmente essas duas indicações, o homem (no sentido de Humanidade) só consegue colher insatisfação.

O homem não tem apenas uma dimensão. Portanto, um estado em que tudo está aparentemente bem - saúde, conforto, realizações pessoais - não significará necessariamente “felicidade”. Não é uma equação matemática: saúde + dinheiro + amor = felicidade. Você pensava que era assim?...

Quando se batalha por um objetivo, colocando nele a esperança de ser feliz, tão logo esse objetivo é atingido, sentimos que a satisfação por tê-lo alcançado não atinge o sentido pleno de felicidade. Isso porque imprevistos, dificuldades, doenças, etc., não são opostos à felicidade real. Então, vamos ter consciência disto:
É ilusão pensar que felicidade é um estado em que está tudo bem, tudo ordenado, tudo sob nosso controle.

Uma vez que o objetivo (item 1) é falso, o meio para se chegar a ele (item 2) é duplamente falso! As coisas sensíveis - sensações, posses, prazeres - não trazem felicidade. Vamos anotar nas paredes, se preciso for:
Prazer é físico. Felicidade é espiritual.
Portanto, não se alcança a felicidade por meio do prazer!

(detalhes sobre isso na Terapia de Doenças Espirituais )
O prazer é passageiro. Quem pratica esportes, sabe que a sensação prazerosa do exercício físico feito segunda-feira de manhã não dura até segunda-feira à noite: é algo físico! E com todos os outros meios de conseguir prazer é a mesma coisa: a sensação de prazer não dura! Mais que isso: conforme o tipo de prazer escolhido para se buscar a felicidade, além da insatisfação pelo prazer que não dura, nos vêm ainda as consequências físicas e morais: doenças, dependência química, decadência (moral e financeira), depressão, e até suicídio - e nada disso resolve “o problema” de se encontrar a felicidade.

Queridos! Estas crises que temos com relação à busca da felicidade são para nos livrarmos dessas ilusões malignas. Felicidade sem Deus, não existe. Para quem tem fé, felicidade é estar em harmonia com Deus; para quem não tem fé, também! Não há felicidade sem se cumprir os Mandamentos de Deus - e eu me pergunto se alguém neste mundo tem conseguido cumpri-los realmente! Mas o empenho em viver segundo o que Deus nos ordena para nosso bem, já é caminho para a verdadeira felicidade.

Essa busca de felicidade, intrínseca no homem, é a busca de Deus. Veja bem então “o quê” você está buscando: Deus! Agora veja bem se você está usando o caminho certo para encontrá-lO.

Dor de crescimento


Sinto informar que também existe a “dor de crescimento” espiritual.

Alguns adolescentes sofrem a dor do crescimento físico. Mas todos - jovens, adultos, velhos - invariavelmente sofrem a dor do crescimento espiritual.

Quando isso acontece, já se viveu uma experiência inicial com Deus, houve o primeiro enamoramento e um tempo de caminhada com Ele, num período em que tudo parece cheio de cores, flores e amores. Porém, logo em seguida Deus nos traz à realidade, para que lancemos raízes mais profundas e saiamos do sentimentalismo; Ele nos dirige a uma espiritualidade encarnada no dia-a-dia. E isso nos traz muita dor, porque queremos ficar sempre no colo que nos oferece leitinho quente... não queremos ter que andar até a cozinha para nos alimentar, não queremos descer o Tabor das visões celestes. Estamos sempre beirando o perigo de escolher as fantasias em detrimento da realidade, e no entanto é ela que verdadeiramente nos faz crescer.

Tudo isso dói, e para essa dor não há relaxante muscular que ajude. Você pode tentar afogá-la de algum jeito, por exemplo seguindo as fugas clássicas do ativismo, do muito beber, do culto ao corpo, das emoções que dão “adrenalina”. O resultado dessas fugas é o aumento do vazio, da falta de sentido em tudo. O mundo inteiro não preenche sua necessidade. Nada preenche. Faz muito sentido que nada satisfaça de maneira permanente, porque sua sede e fome têm uma dimensão espiritual que não se satisfaz com lixo!

Mas há outras fugas, bem mais sutis e que são facilmente aceitas pelo nosso orgulho, e com elas procuramos justificar nossa moleza na hora de rezar, nosso desânimo ao cumprir as tarefas mais simples, e até nossa falta de caridade para com os mais próximos:

  • começamos a nos queixar de que o ambiente ou a situação em que vivemos não favorece nossa espiritualidade;
  • pensamos que se outras pessoas estivessem por perto, seria tudo mais fácil e prazeroso;
  • olhamos para trás, na esperança de recuperar alguma coisa (status, por exemplo) que tememos perder se seguirmos adiante;
  • ficamos desanimados quando olhamos o momento presente, comparando-o com as fantasias pessoais que julgamos ser melhores do que a realidade.
Em resumo, não assumimos o “hoje”, a realidade do agora; ficamos suspirando e gemendo pela fantasia que queríamos viver. Com isso, fazemos força no sentido contrário ao que deveríamos ir: para frente, sempre adiante! Assim, lutamos contra nós mesmos, ficamos sempre cansados e tudo pesa.

Parte do crescimento é justamente este: viver o hoje, aceitar e assumir a realidade do momento presente. Viver a integralidade do agora.

Faxina mental


A gente nem se dá conta de quantas coisas ruins passam pelos nossos sentidos... e elas deixam marcas. Em particular, a falta de sensibilidade que já temos diante das cenas de violência que já assistimos tanto nos filmes. Nas notícias, as tragédias se misturam com informações fúteis e sem sentido algum. Nossos sentimentos ficam todos misturados e evitamos a todo custo dar mostras de nossas fraquezas diante dos outros; sentimo-nos humilhados se testemunham nossa fraqueza. Mas tudo isso faz parte de nós, e é importante viver as emoções corretamente. Não nos acostumar com a dor do outro, que nos torna impiedosos. E não dar razão ao sentimentalismo, que é contrário ao sentimento saudável, à razão e à justiça (justiça que não é impiedade, mas dar o valor correto às coisas).

Este vídeo foi projetado nas Escolas de Formação da Comunidade Oásis e também no Congresso Nacional de Novas Comunidades, no ano passado. A motivação dele foi justamente essa: de limparmos nossa mente, nosso coração, nossos olhos, da violência, da impiedade, da impureza, da falta de delicadeza e de carinho. E o convite é nos lançarmos nesse abraço de pai. No abraço do Pai!

Atirar no que se vê, acertar no que não se vê


As crises às vezes são... engraçadas! Elas podem começar fazendo a gente pensar que se trata de arrumar uma determinada situação e, quando a coisa começa para valer, a gente descobre que o “assunto” mesmo é outro!... e que aquela situação, no final das contas, é apenas uma decorrência do que realmente precisa ser consertado em nós.

Portanto, o assunto principal da crise é o mais importante, por mais que a situação decorrente nos deixe apavorados. Resolvido o principal, o resto se encaminhará para sua resolução adequada - contanto que tenhamos assumido esta nova cura!

Como em todos os outros casos, neste é imprescindível o recolhimento em oração. Sendo uma situação em que aparentemente há coisas demais a serem resolvidas (a coisa principal e as decorrentes), é preciso que tudo esteja bem claro dentro de nós, antes de tomarmos qualquer decisão. Quando estivermos bem definidos a respeito da situação principal, teremos a firmeza e convicção necessárias para proceder à solução de tudo o que ela implica.

Terapia de doenças espirituais


Este video com Pe. Paulo Ricardo é a introdução do curso chamado Terapia de doenças espirituais. Na Comunidade estamos estudando o áudio das palestras dadas por ele, mas este video (e os relacionados) oferecem o conteúdo resumido do curso. Tem sido um grande auxílio para nossa espiritualidade, por isso recomendo!

Calma, não é o fim do mundo!


As crises nos fazem pensar que estamos vivendo algo parecido com o fim do mundo. Usamos termos dramáticos do tipo...

“Nunca nada dá certo pra mim!”
...o que não é necessariamente verdade. É que agora aconteceu alguma coisinha meio fora dos planos e já vem aquele desespero de querer controlar tudo na vida. Ô ilusão medonha!

Mas voltemos a essa sensação de fim de mundo: não é de fato o fim do mundo, porém bem pode ser o fim de um mundo aí dentro de você.

Pode ser o fim de um mundo de ignorância a respeito de si mesmo; de arrogância diante das outras pessoas; de supersensibilidade, que tornava você difícil de lidar... ou até o fim de um mundo fictício de religiosidade, no qual você reinava à vontade e sem qualquer exigência séria por parte do deus que você criou (é surpreendente a facilidade com que nos idolatramos e endeusamos!). É terrível, tudo isso! Graças a Deus esses mundos acabam. Têm que acabar!

Por isso, se você estiver com uma particular sensação de “fim de mundo”, analise o que está sendo destruído, considere o bem que isso lhe fará, e prepare-se com muita esperança e alegria para ver mais uma bela obra de Deus em sua vida.

(veja também o post Nada dá certo!)

O que eu faço?


Essa pergunta não é muito boa, porque a resposta é mais do que sabida. Mas nas crises a gente insiste em perguntar “o que que eu faço?”, na esperança de que a solução seja simplesmente fazer alguma coisa. Somos ativos, gostamos de ação, e achamos que resolver logo as coisas é sinônimo de eficiência. É a cultura atual - ok, culpe-a, se desejar. O importante é termos consciência de que o ativismo faz parte de nossa doença espiritual e não de nossa cura.

Para problemas espirituais, remédios espirituais: oração, jejum, esmola.

Oração, para entrar em comunhão com Deus e o próximo; jejum, para se libertar do próprio querer e de muitos vícios da vontade; esmola, que é sinônimo de desprendimento e, com sua evolução gradual, verdadeira caridade.

Tendo feito isso, então se pode “fazer” no sentido de realizar algo a respeito da crise em questão: tomar as decisões necessárias, enfrentar as situações que precisam de uma atitude, firmar-se naquilo que já descobrimos que é bom.

Se colocamos o carro na frente dos bois, querendo “fazer” logo de cara, não teremos nenhuma firmeza e nem estaremos convencidos de que aquele fazer é o que deve ser feito.

O que fazer em caso de pressa?
Ajoelhe-se e reze!

Tudo certo e nada resolvido


As crises têm períodos amenos, nos quais a impressão que temos é de que está tudo certo. Na verdade, temos consciência de que nada está resolvido ainda, mas não importa: a impressão é de que está tudo certo!

Talvez seja por conseguirmos fazer as pazes com nossa incapacidade de resolver tudo (o que quer que precise ser resolvido).

Nada é desprezível numa crise, por isso também essa fase tem seu valor. Esta tem pelo menos dois pontos interessantes (ainda estou descobrindo os outros, pois deve haver mais!):

1. Uma lição dessa fase é, como mencionado acima, encararmos nossa incapacidade e enfim não termos mais a mesma reação de desespero: não consigo resolver! não consigo fazer! não consigo nada! É finalmente se dar conta do óbvio, descrito com todas as letras no Evangelho:

“- Sem mim, nada podeis fazer.”
 Jesus não disse que sem Ele podemos fazer “pouco”. Disse exatamente que, sem Ele, “nada” podemos fazer. Sabe o que é nada? Então: por favor, coloque na sua cabecinha: o que você consegue fazer é “com Deus”.

Você sabe separar o oxigênio do ar que respira? Você sabe fazer o ar que respira? Não? Nem isso você consegue? Que decepção, hein?... Pensando que era todo independente de Deus, e olhe só...

Então, a lição: você não consegue coisa nenhuma mesmo, deixe de pensar que você pode tudo, ou que precisa poder tudo. Não pode. E pronto.

2. Estando um pouco mais conscientes de nossa incapacidade, subimos um degrauzinho a mais na confiança em Deus, pois o raciocínio é simples: eu nada posso, Deus pode tudo. Portanto, faço o que me cabe e todo o resto Deus realiza.

Conforme nosso crescimento espiritual, esta lição de confiança em Deus ganha novos aspectos. De início é tudo muito sutil, e acabamos confiando em Deus para coisas simples, com uma confiança ainda manchada pelos nossos planejamentos cheios de recursos e “planos B”. Algumas vezes, a confiança acaba cedendo espaço para um fatalismo do tipo “agora, só Deus!” pra resolver a situação. Mas com tudo isso vamos sendo levados a graus mais elaborados de confiança amadurecida pela experiência.

Para Santa Faustina, nosso Senhor disse que o que mais fere Seu Coração é a desconfiança. Desconfiamos porque queremos saber tudo a respeito do que nos aguarda, para nos prepararmos... porque somente assim dominamos a situação. No fundo, é o nosso pensamentozinho de independência, a tentação da serpente do Éden (“Sereis como deuses!” - isto é, não precisarão mais de Deus, vocês mesmos darão conta de tudo). Isso é tão arraigado em nós, que são necessários muitos exercícios de confiança nestas paradas em que ficamos pasmados com as mudanças em nossa vida.

Deixe Deus ir fazendo. Não tenha medo!

Arrependimento


Uma coisa que tentamos negar com todas as forças, é que nossa cultura está permeada pela cultura judaico-cristã. Mais do que isso, tentamos negar o que é comum a todos os seres humanos: a noção de que há um Deus Criador. Há coisas que são inatas, seja para um executivo paulista, seja para algum aborígene australiano que nem sabe o que é televisão. Sendo humanos, têm muito em comum, por mais que se negue.

Pode-se falar muito disso, mas vou ficar só com este tema de arrependimento por hoje.

O arrependimento existe porque temos muito clara a noção básica de certo e errado, de bom e ruim, de bem e mal. Isso tem a ver com a existência da própria verdade, que se procura relativizar (e com isso deixar todo mundo neurótico, cheio de incertezas e contradições) [ver post sobre isso no blog Dez Real]. São coisas básicas, naturais no ser humano, e que a civilização está tentando rebentar, sabe-se lá por que motivo. Para deixar todo mundo doido e dependente de remédios, penso eu.

Mas, enfim: qualquer pessoa a partir da idade da razão - a partir dos 7 anos, e conforme seu desenvolvimento mental - já sabe o que é certo e errado. Tem noção de que uma escolha ruim tem consequências. O que se prega é a negação desse conhecimento!

Quando a gente erra sem querer, logo pensa: “ops, que mancada!”, “ai! agora já foi...” - não é mesmo? A gente tem aquela sensação de ter errado ou vê uma consequência inesperada e sente: “puxa, eu poderia ter evitado...” Isso é um arrependimento.

Mas quando a gente erra de propósito, do tipo “tô errado sim, e daí?”, ou “os outros também fazem isso e eu vou fazer”, nessa atitude está nitidamente expresso nosso orgulho. E “ai” de quem nos disser que estamos errados! Jogamos em cima todo tipo de clichê e frase feita que se ouve por aí: “você não tem o direito de me julgar”, “você não é o dono da verdade”, blábláblá... - e se fica empacado na mesma situação.

O problema é que a gente pensa que nossos erros, escolhas, opções, têm a ver só com a gente. E aí somos durões, porque não podemos deixar que os outros nos digam que estamos errados. Até posso - de veeeez em quando - reconhecer meu erro, mas ninguém pode me dizer que estou errada. Que “lindo”! E isso vai me levar aonde? Vou ficar em paz? Ou vou ficar sempre pronta para me defender do outro, ou pronta para atacar logo que abrem a boca pra me dizer alguma coisa?

O negócio é tão mais além... porque, no fundo, sempre é entre nós e Deus. Mas não entre nós e o “deusinho” que criamos para nós e que nos deixa confortáveis com nossa miséria, não... É entre nós e o Deus que nos criou para o Amor. (a propósito, Amor não é um sentimento, porque os sentimentos são passageiros...) 

Pense bem se você tem certeza de que Deus criou você para ter a vida que você tem hoje.

Mas não fique naquela ladainha de que “meu pai fez isto, minha mãe fez aquilo, meus amigos faziam não sei o quê...” para se justificar dos seus próprios erros (os erros dos outros são problemas deles!). Busque ficar em paz com sua própria história de vida [ver post anterior] e veja como está seu relacionamento com Deus, e com tudo o que Ele significa: verdade, misericórdia, justiça, equilíbrio, harmonia,...

E enfim cresça para o amor e a liberdade necessários para se arrepender do que já fez e faz de errado, em todos os níveis: com sua família, consigo mesmo, com aqueles que dependem de você de alguma forma,...

Aí então, pelo arrependimento, você estará em paz com Deus. Com o mundo inteiro.

Por outro lado,... sem arrependimento e reconciliação não há paz!

O culpado foi Deus!


Numa de suas revoltas, um amigo me disse que teve a seguinte resposta de Deus: “Culpe a Mim, fui Eu o culpado por isso ter acontecido”.

Confesso que nunca consegui colocar na cabeça que Deus fosse culpado por alguma coisa na minha vida. Deus é Amor, Deus é Bom, etc... como poderia dizer que Deus tivesse alguma culpa do que alguma vez me aconteceu?

Até que entendi o mecanismo desse pensamento. Não direi que é algo fácil, porque contraria muitas coisas dentro de nós. Mas faz com que os acontecimentos sejam aceitos.

Não tenho a capacidade de tocar profundamente no assunto, por isso peço perdão pelas lacunas... espero, porém, que este post ajude a alguém.

É complicado a gente pensar em permissão de Deus para que algo aconteça. Algumas vezes me puseram contra a parede para que eu desse respostas a isso, e não consegui; respondi simplesmente que o problema é a negação do amor por parte dos homens, e que as coisas más só aconteciam por causa dessa rejeição de Deus por parte da humanidade.

O negócio é um pouco mais complexo, e tem a ver com o desequilíbrio causado pelo pecado: Deus permite que o homem escolha, porque Ele o fez livre; a escolha pelo mal é o pecado, e aí entra a Redenção para reequilibrar as coisas. Numa análise grosseira, posso chegar a considerar que Deus é o culpado pelo mal que me afligiu, simplesmente porque Ele o permitiu. A Redenção dessa situação se dá quando eu aceito que aquilo que me aconteceu veio por permissão dEle e que, portanto, não foi um mal absoluto, mas pode ser transfigurado em minha vida - sempre pela graça de Deus - e assim desse mal surgirá algum bem. Normalmente, será um bem para muitas pessoas, não apenas para mim.

Um exemplo disso: quantas vezes se ouve contar histórias de vidas profundamente feridas, das quais as pessoas se ergueram e se dedicaram a ajudar outros em situações semelhantes! O simples testemunho de vida acaba tendo um impacto profundamente redentor para outras pessoas: a simples indicação de que existe uma solução, de que é possível levantar-se e seguir adiante.

As situações não precisam ser tão dramáticas... o “mal” que nos afligiu pode ter sido uma crise existencial, mesmo quando tudo ao redor estava bem. E quantas vezes o “mal” que nos atingiu nos livrou de verdadeiros males, até irreversíveis!

Estive com muita necessidade de aceitar fatos passados, e foi considerando a “culpa” de Deus neles que estou caminhando para sua aceitação.

Comecei, é claro, com a típica revolta pelas coisas acontecidas, uma vez que ainda sofro suas consequências: como poderia achar que foi bom o que ainda me traz sofrimento? Depois, passei a esse pensamento: Deus foi o “culpado”. E então considerei: o que Ele queria com isso? O que havia realmente por trás disso? O que devo aprender com isso? O que Deus quer de mim?

É curioso porque não tenho as respostas, mas enfim estou encontrando Paz com minha própria história.

“Eu vos exalto, ó Senhor,
porque vós me livrastes!” (Sl 29)

Avaliando suas intenções


Pelo menos por 2 vezes Jesus olhou para a multidão que O seguia e perguntou diretamente o que queriam ou qual o motivo de O estarem seguindo. Algumas vezes Ele faz a mesma coisa conosco.

É comum dizermos: “Ah, fulano entrou na igreja/seita tal e qual só pra resolver seus problemas”. Então, é bom avaliarmos se nossas intenções são mesmo puras como exigimos que as de outros sejam!

Voltando ao Evangelho, uma das vezes em que Jesus coloca o povo em cheque é quando o entusiasmo popular já queria proclamá-lo rei. Ele simplesmente virou para trás e disse:

“Quem quiser ser meu discípulo, tome sua cruz de cada dia e me siga”.
Até imagino os comentários depois dessa: “Hóme, já se viu? Rapaz!... a gente querendo fazer dEle aí nosso rei e Ele me vem com essa história de cruz de cada dia? Que birutice! É só mais um daqueles messias que aparecem em cada esquina mesmo, já vi tudo... 'Tava parecendo bom demais pra ser verdade...”

A passagem em João 6,22-29 é tão explícita quanto essa. O povo, admirado com a multiplicação dos pães, procura Jesus por toda parte e nem sabe direito o que dizer quando O encontra. O comentário de Jesus é simples e direto: “Vocês estão atrás de mim porque querem mais pão, não porque acreditam em quem Eu sou”.

Simplesmente isso: não se segue Jesus para resolver problemas, para dar um jeito no que está errado em nossa vida. O seguimento de Jesus é devido a um encantamento - e não tenho palavra melhor no momento - por Ele. A pessoa de Jesus encanta, apaixona, provoca. Isso se deve a Quem Ele é. Ele nos faz ir além da nossa mediocridade, muito além da conformidade com a lei do menor esforço. A solução de problemas, o acerto de vida, tudo isso tem relativa importância, mas não será com essas intenções que conseguiremos perseverar no seguimento de Jesus.

E então? Por que você segue Jesus? O que você quer dEle?
Deixe que Ele o interrogue, e avalie suas intenções...

Solidão?


Você está na direção certa?


Meu post seria sobre outro assunto, mas esta foto foi tão representativa que precisei usá-la hoje.

Na nossa pressa de arrumar a bagunça que fica nossa vida numa crise, temos a capacidade de nos precipitar em muitas decisões.
Não temos consciência, mas nossa posição acaba sendo muito semelhante à desse carrinho vermelho: no sentido contrário de uma corrida. E nos achamos “o máximo”, porque - na nossa pobreza espiritual - achamos que estamos mostrando para os outros que “somos capazes” de nos sair bem, de fazer algo certo.
No entanto, a verdade é que estamos realmente na contramão do que deveríamos fazer...

(ver post “Eu queria resolver logo isso!...”)

Nossas respostas


    Viver é ser chamado e amado por alguém para algo... para uma missão. Todo homem e toda mulher nasce para algo... Nasce no coração de Deus para realizar Seu plano eterno, e seu caminho na vida deveria ser um sonho de Deus realizado na história. O chamado é seguro, certo, constante. E a resposta?

    Respostas fiéis, abençoadas por Deus! Respostas frustradas, condenadas à esterilidade! Respostas pela metade, tíbias e mesquinhas, recheadas de comodidade própria! Qual é a sua resposta? Qual você quer que seja sua resposta?

    Talvez sintamos medo. O temor é algo natural diante do que nos ultrapassa, diante do que escapa ao nosso controle e nos remete a um mundo e a uma força superiores. Os homens temem comprometer o futuro, sem passar cartão de crédito e de seguro. Temos medo de hipotecar nossa pessoa pela causa do Evangelho, sem outra garantia a não ser a voz misteriosa de um chamado e de uma escolha. Também Maria, a escolhida e predileta de Deus, ficou perturbada, sentiu o desassossego do medo. Mas o medo não a inibiu nem paralisou sua busca daquilo que Deus queria.

    Somente um confiante “faça-se”. Diante do chamado e da escolha de Deus em nossas vidas, nos vêm à mente com a velocidade de um raio perguntas e perguntas: O quê? Como? Por quê? Quando? Onde? Para quê? O Senhor não nos pede perguntas, embora tampouco as rejeite. Para o Senhor, o mais importante não são as perguntas, mas as respostas. Pede-nos apenas uma resposta livre, amorosa, consciente, generosa. Não nos pede o que não podemos Lhe dar, na verdade Ele nos dá o que nos pede, e além disso sem nos cobrar. Nosso “faça-se”, como Maria, temos que pronunciar sob a condução do Espírito Santo, verdadeiro timoneiro de sua barca no mar da vida, Mestre interior que ensina sabedoria divina, e acompanha e ajuda a viver o que ensina.

    Viver meu “fiat”, meu “faça-se” de cada dia com simplicidade de coração, mas com vontade decidida e generosa, sem freios de medo ou de covardia.
Excerto da meditação do dia
Autor: Pe. Antonio Izquierdo, Pe. Florian Rodero  | Fonte: Catholic.net

Nada dá certo!


Quando os imprevistos são em maior número do que as coisas que conseguimos fazer de acordo com o que estava na agenda, dá pra entrar em parafuso, em pânico, dar tilt, ou reação semelhante.

Muitas e muitas vezes enfrentamos imprevistos, e esse é um fator provocador de crise. Se já estamos em crise quando isto acontece, a crise piora.

Aquela piada do “quanto mais eu rezo, mais assombração aparece” se aplica a esta situação. Os eventos ficam parecendo um castelinho de cartas ou pedras de dominó que a gente tenta manter em equilíbrio, de olho naquela carta ou pedra que começa a vacilar.

As reações são diversas, e quase sempre erradas. Quanto menos autocontrole, mais se despeja a culpa de tudo no outro, fazendo dele o bode expiatório de suas frustrações. Também vem a sensação de fracasso, desânimo, de não conseguir fazer nada certo, “nunca”!

Acontece que provavelmente essa situação não esteja acontecendo por erro de planejamento, por falta de consideração dos outros, ou por qualquer desses motivos que nos vêm à mente nessas circunstâncias - muitas vezes, pensamentos provocados por nossa concupiscência e não por uma análise racional do que está acontecendo.

Uma causa pode ser nosso próprio estado espiritual. É, ainda, nossa mania de colocar tudo sob nosso controle, acostumados que ficamos a planejar tudo segundo nossa conveniência. Acontece que, quanto mais planejados somos, menos livres somos. Ficamos manipulando mentalmente todas as coisas, prevendo ações e reações e - apesar de contarmos tanto com nossa inteligência - raramente considerando imprevistos! Tudo tem que estar planejado e acontecer dentro dos limites que traçamos. É difícil vermos isso como prepotência, mas é. Um imprevisto acaba sendo encarado como um “pecado” contra nossa capacidade de planejamento. Então nos sentimos lesados, tremendamente agredidos. Chegamos até a planejar vingança, querer uma desforra. “Quero só ver se fosse com ele”... Coisas do tipo.

A reação mais correta seria então perceber essa nossa arrogância de querer gerenciar tudo perfeitamente e sem falhas, acatar os imprevistos e nos sentirmos um pouco mais livres a cada vez que eles acontecem. No mais: renúncia à auto-suficiência, aceitação de humilhações relacionadas à nossa capacidade finita de prever tudo, e nos exercitarmos nesta maravilhosa liberdade de viver cada segundo conforme ele nos vem, como um presente precioso do Coração do Pai.

“Eu queria resolver logo isso!...”


É, eu também!... mas uma das maiores lições das crises é saber esperar o tempo de Deus.
Quando estávamos começando a Comunidade, num Rosário de sábado eu abri a seguinte leitura, que vi ser todinha para nós:
“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.
Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.
Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.
Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais; vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa.
Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria.
Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz.
Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido. Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada?
Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram.”
(Eclesiástico 2, 1-13)
Pois é...

Alguém pode me dizer se existe uma única pessoa neste mundo que sabe melhor do que Deus os tempos para as coisas acontecerem?
É isso mesmo: não há ninguém.

Então, para quê a pressa de resolver as coisas?

Já sei as respostas: “ah, mas eu queria...”; “seria tão mais fácil se acontecesse já...”; “seria tão melhor se isto se definisse logo...”   E eu comento: Aaaaahhhhh! nada disso tem importância! (rs...)

É sério, eu sei: a gente realmente sofre muito quando passa por uma situação de indefinição, esperando que o tempo amadureça - que a gente amadureça, essa é a verdade. Mas é tão melhor deixar que Deus resolva as coisas do jeito certo, no momento certo!

Dou um exemplo básico, para que isto não fique muito no ar e depois me digam que eu andei ensinando que a gente não deve fazer nada, só esperando Deus fazer:

Não poucas vezes, quando estamos diante de uma decisão espiritual importante, surge ao lado disso uma sugestãozinha alternativa para a situação, relacionada (muitas vezes) à parte afetiva, ou à parte financeira. E aí fica aquela dúvida não muito cruel:
Escolho o que eu não tenho certeza que é isso mesmo, e que demora pra fazer efeito, ou já resolvo esta parte que está tão mais perto de ter um resultado?
Simples, de decidir, não é? A gente tem pressa, quer ver as coisas acontecendo logo (de preferência, agoooooora!!!) e embarca pelo atalho que parece rápido mas que leva para longe da definição principal.
Depois não adianta reclamar, porque a gente vai ter que voltar àquele ponto de definição outra vez, e novamente terá que escolher entre Deus e... a gente!

A esperança de Deus é que algum dia a gente escolha certo.

Vontade de sair correndo


Coincidentemente, duas pessoas que conheço estavam com este sintoma, neste final de semana. E é claro que já senti a mesma coisa e volto a sentir em várias situações.
Esta vontade de sair correndo às vezes parece ser satisfeita com atitudes bem simples: planejamos pequenas fugas disfarçadas de

  • “tenho outro compromisso”, 
  • “preciso terminar uma coisa”, 
  • “não posso agora”.
Calma, gente... não precisam ter vergonha. Só estou dizendo que é possível identificar quando se está fugindo ou não. Já disse que também passo por isso, então está todo mundo na mesma situação:
Que feio, a gente tem vontade de fugir!
Pronto. Mais calmos agora?
Vamos em frente então,  pra saber como lidar com isto.

Preciso dizer aqui o que disse em particular para um amigo:
“Você pode sair correndo das coisas físicas, mas das coisas espirituais não dá pra fugir.”
Então, queridos, a verdade é que podemos ser hiper-mega-criativos para bolar desculpas para não enfrentar certas situações que sabemos que nos causariam desconforto (por termos que escutar o que não queremos, por nos arriscarmos a assumir alguma responsabilidade, etc.), mas Deus sabe onde vocês moram!
Entendem?

Podemos fugir com a maior elegância de qualquer situação que nos colocaria numa saia-justa ou numa posição inescapável de definição por alguma coisa. Mas se aquilo de que estamos fugindo é necessário e até vital para nós, então nossas estrategiazinhas bobas não vão adiantar: Deus vai nos perseguir incansavelmente! Vai nos pegar na esquina, por assim dizer. Algumas vezes Ele nos pega até no banho, desmontando magistralmente nossos belos planos de querer controlar tudo ao nosso gosto. Louvado seja Deus por isso!

Então, se a vontade de fugir, de sair correndo, começar a se manifestar, pode ter certeza: é o momento de olhar bem a situação, respirar fundo e enfrentá-la. É o momento de amadurecer, de pôr à prova suas verdades interiores. E nada fazer sem oração.

Crise, em outras palavras...


“...muitas vezes o que se denomina crise é antes um despertar, um abrir os olhos à realidade e sentir essa tremenda saudade que traz consigo a ausência de Deus... E é precisamente nesses momentos delicados que se torna indispensável concentrar-se, ir ao centro, meditar, viajar para dentro, para encontrar lá o núcleo central da personalidade e, com ele, o sentido da vida.
Nesse momento, aparece de uma maneira muito clara o pensamento de Deus: se Deus deu a cada estrela a sua órbita e a cada pássaro o seu canto, deu a mim, sem dúvida, um sentido, uma missão a cumprir.
É interessante como «os pensadores» de todos os tempos, ao questionarem os últimos «porquês» das coisas e dos acontecimentos, quando indagavam sobre o sentido da vida, também ao mesmo tempo pediam a Deus a luz necessária para encontrar a paz: faziam oração. Platão perguntava-se: «De onde venho, para onde vou?...» E depois, uma prece pungente: «Ó Ser Desconhecido, tem compaixão de mim!»”
Rafael Llano Cifuentes, Viver na Paz. Ed. Quadrante - pág.20

A quebra das ilusões


Uma das causas e, ao mesmo tempo, uma das lições de uma crise é a quebra das ilusões.
Isso acaba sendo assustador, muitas vezes... é inacreditável quantas ilusões acumulamos com relação a praticamente tudo! Ilusões que trazemos da família, ilusões geradas por expectativas, ilusões que nos ensinam como verdade a respeito disto ou daquilo.

Mesmo quando experimentamos a realidade, e ela nos mostra claramente qual é a verdade da situação, se a ilusão é forte o suficiente passamos a vida toda achando que a ilusão é a realidade - e se a realidade que experimentamos é diferente da ilusão, a realidade está errada!!
É, isso mesmo!, é algo muito louco e que não faz sentido. Mas acontece, e a gente demora a perceber que faz exatamente isso.

O problema é que não reagimos muito bem a essa quebra de ilusões: são como bichinhos de estimação, muletas ou lentes cor-de-rosa aos quais nos agarramos, pensando em tornar a vida “mais aceitável”, escondendo nossas fraquezas, justificando para nós mesmos aquilo que fazemos de errado, desculpando as más escolhas, valorizando o bem que fazemos... ah, tudo isto renderá ainda muitos posts! Reflitam a respeito.

Enfim, sejamos sinceros: passar a vida querendo que o azul seja rosa e o marrom seja verde não é algo muito saudável... Por isso, bendita seja a quebra de nossas ilusões!

Ninguém com quem falar?


Este talvez tenha sido o primeiro sintoma de crise que eu percebi: sempre que as coisas começavam a ficar difíceis, os problemas surgiam e eu queria conversar com alguém a respeito, as pessoas mais próximas ou não tinham tempo ou sumiam!
Eu ficava meio indignada, pensando: “como é que esse povo some justamente quando mais preciso?” E isso se repetia, de novo e de novo...
Até que aprendi a lição.
Ter aprendido a lição não impede que eu sinta falta das pessoas, não... mas pelo menos entendo o que está acontecendo e me ajusto para viver esse momento.

É o seguinte, amados: Deus quer ser nosso tudo. Ele é, de fato, nosso TUDO! Aquele que tudo nos provê. Ele é, de fato, Aquele que tem condições de resolver todos os problemas. Ele é Único que sempre estará ao nosso lado em todas as situações.
Então, acostumem-se a esse “sumiço” daqueles mais queridos quando estiverem precisando de alguém. Não cobrem dos mais queridos, dos conselheiros, dos ombros amigos, a ausência e falta de tempo quando vocês pareciam mais precisar deles. Essa solidão é obra de Deus nas suas vidas!
É uma solidão bendita, porque ela está repleta da presença de Deus. Esse é o momento em que Ele os quer totalmente perto de Si; quer ouvi-los, quer colocá-los sobre Seu Peito, como uma versão moderna de João, ouvindo as batidas de Seu Coração por vocês.
Essa é a hora de crescer um pouco mais, de ajustar coisas importantes, e isso só será possível plenamente com a Graça Divina. Por isso, se nossos amigos, conselheiros, estivessem ali para nós nesses momentos, não teríamos essa Graça. Cresceríamos pouco, ou nem cresceríamos. Perderíamos a Graça desse momento de crise, porque nos valeríamos de apoios humanos, procuraríamos soluções imediatas, e continuaríamos imaturos justamente naquilo que Deus estava providenciando para nosso crescimento.
Suportem então essa solidão, apóiem-se em Deus, e cantem um hino de oferta:

A Tua ternura, Senhor, vem me abraçar
e a Tua bondade infinita, me perdoar.
Vou ser o Teu seguidor
e Te dar o meu coração;
eu quero sentir o calor de Tuas Mãos.

“Ninguém me entende...”


É muita pretensão que as pessoas “tenham” que nos entender. Mesmo seu diretor espiritual jamais vai entender você totalmente. Sua dimensão espiritual só pode ser entendida por Deus, porque somente Ele a conhece plenamente. O máximo que você pode conseguir das pessoas, mesmo as que mais o conhecem, é conselho e um pouco de compreensão.
Compreensão a gente até aceita. Mas conselho...
Principalmente se o conselho ouvido engloba fazer as coisas que a gente não quer fazer - por medo, preguiça ou simples “birra”. Aí vem a reclamação: “ninguém me entende!!...”

Olha, gente... é preciso usar a cabeça: um outro ponto importante a ser aprendido nas crises é que, em cada fase dessas, a gente tem algo a aprender. Uma crise anterior ensina algo que pode ser usado para o crescimento espiritual na crise de agora. Parte essencial do aprendizado é convencer-se de duas coisas:

  1. existe Deus;
  2. eu não sou Ele.

“Sinto um vazio...”


Se você nunca disse isso, com grande probabilidade já ouviu alguém dizer: “Sinto um vazio...”
Mas o que significa esse “vazio”? Ele aparece em pessoas materialistas e em pessoas mais espirituais; qual o sentido disso?

Como pode sentir um vazio quem consegue adquirir o necessário e, muitas vezes, até o supérfluo?
Não é curioso que esse vazio seja sentido depois de se conseguir alguma coisa - material ou não - muito desejada e há muito tempo buscada?
Por que, então, essas coisas desejadas não são capazes de preencher esse vazio tão inesperadamente sentido?
E, mais ainda: por que se busca preencher esse vazio com cada vez mais coisas e emoções, se isso não resolve?
Esse vazio, amados, é um sinal de que o homem (e aqui uso o termo no sentido clássico, significando pessoa humana, humanidade...) - o homem não é apenas o que se vê. Sua origem espiritual reclama a experiência e a degustação de coisas espirituais. Se se nega o alimento ao espírito, ele reclama de fome, tanto quanto nosso estômago físico faz ruídos quando vazio.

Mas, mais curioso ainda: como pode sentir um vazio quem busca as coisas espirituais, a vivência em Deus?

O mais comum é que, na verdade, ainda se continua procurando conciliar a vontade própria e a vontade divina.
Daí o vazio, a angústia, a insatisfação contínua: porque não se progride, nega-se o passo além que poderia temporariamente saciar o desejo mais íntimo da alma, de tocar um pouco mais profundamente o mistério do qual ela mesma se originou.

O mais incomum é que esse vazio seja uma purificação da alma para Deus. Então é o momento de unir-se a Jesus no Getsêmani e, com Ele, oferecer esse sofrimento purificador. Agradeça a Deus por essa experiência e peça que Ele tenha misericórdia de sua miséria. Não há muito o que fazer além disso. Pacientemente, aguarde que o processo se conclua. Outras fases virão.

Como piorar a situação


Talvez nem fosse preciso escrever este post, porque a gente é especialista em piorar qualquer crise!
Mas cito alguns itens importantes que ajudam a piorar as coisas:

  • fingir que nada está acontecendo; ou
  • ir para o outro extremo e agir como se fosse o fim do mundo (geralmente é o fim de "um" mundo, mas veremos isso em outra oportunidade);
  • não aceitar conselhos, achando que somos os únicos no planeta a passar pelo problema presente;
  • ouvir conselhos, entender que se aplicam à situação vivida, mas não colocá-los em prática porque os conselhos ouvidos geralmente incluem uma lição de humildade e um comprometimento maior com Deus.
São receitas infalíveis para que a crise se torne o mais aguda possível, com consequências que variam do isolamento à falta de paciência alheia com a dureza de nossa cabeça (e de nosso coração).

Um resultado disso é que a crise se torna cada vez mais aguda, até quase o ponto de desespero, quando enfim o indivíduo...
  • se faz de duro na queda e cerra os dentes pra ir suportando uma situação insustentável... e, se não ficar louco, já é lucro;
  • dobra os joelhos e se rende à vontade de Deus para sua vida.
Concordamos que é muito melhor evitar piorar a situação?...
Coragem, pois!

O que começa uma crise?


Vários fatores podem dar início a uma crise; podem ser fatores sérios ou até muito bobos. É fácil identificar os fatores sérios: o falecimento de alguém próximo, um acidente, uma doença. Mas os fatores muito bobos também são importantes, embora tragam consigo o agravante de uma decepção pessoal: "por que isso me abala tanto?" - e é difícil até mesmo identificar o ponto em que o acontecimento se tornou o gatilho dessa nova crise.
Não poucas vezes eu terminava de falar com alguém ao telefone e sentia que alguma coisa não estava certa. Era a crise chegando!
O assunto nem precisava ter sido sério, era às vezes apenas uma proposta, uma pergunta, a comunicação de um imprevisto.
O que acontecia no meu íntimo, e que somente bem depois eu me dava conta, era que:

  • a proposta me incomodava e eu não queria aceitá-la por algum motivo;
  • a pergunta me incomodava porque eu não queria respondê-la por algum motivo;
  • o imprevisto me incomodava porque certamente eu queria que meus planos e esquemas funcionassem como eu havia previsto.
Por isso me parece que a causa comum para que se inicie uma crise é o nosso querer. E invariavelmente nosso querer está associado a um desejo de controle das situações. É, lembrem-se bem, nossa herança como filhos de Adão e Eva: queremos ser deuses!

Alguém quer uma crise? Não?...


Se já aconteceu de você olhar para sua vida e dizer “Está tudo errado!!!”, você passou por uma crise.
Dificilmente se passará por uma fase dessas dizendo “que bom, mais uma crise!”, mas o objetivo deste blog é ajudar você a chegar a pensar em - quem sabe? - talvez se permitir um pensamento longínquo de que uma crise seja mesmo uma coisa boa.
Não é pouca pretensão de minha parte!

Você tem todo direito de sofrer


Certa vez uma amiga estava passando por uma crise imensa. Para mim, que apenas via tudo acontecendo, a impressão era de que tudo lhe doía tanto que ela nem sabia como expressar o que sentia. Também parecia não entender nem o que se passava dentro dela. Tudo era dor.
Havia também outro lado da história, e por esse outro lado da moeda parecia que ela deveria se alegrar e não ficar tão mal daquele jeito. Eu me lembrei de minha experiência própria numa situação semelhante e não tive dúvidas ao dizer a ela:

- Você tem todo direito de sofrer!
Claro que isso não é o mesmo que dizer “você não vai sair dessa”. Apenas disse que ela precisava viver aquele momento, não negar o que sentia. Negar o sofrimento só faz com que ele fique engavetado dentro de nós mesmos, como se isso fosse resolver o problema. É como querer colocar uma tampa no cume de um vulcão soltando fumaça e dizer que está tudo sob controle. Mas ter medo de enfrentar um problema não é coragem.
Esses momentos são importantes, são aprendizado para toda a vida.
Então, se chegou um momento difícil, tire todo proveito do que esse episódio pode ensinar para sua vida. Você verá que não é possível fazer isso sozinho... o que já é uma primeira lição.

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