A respeito de Liberdade e Paraíso


A coincidência da nomenclatura dos bairros e sua posição na cidade já fez com que esta foto aparecesse numa porção de blogs com este assunto. Em especial porque a placa sugere - assim como certo pensamento dominante - que escolher o caminho da liberdade é ir na contramão do Paraíso.

E aí poucos se interrogam: afinal, o que é liberdade? o que é o Paraíso?

Muitos têm uma noção bem terrena de Paraíso, como se fosse uma condição de mundo em que tudo funciona direito, onde as leis são seguidas e a justiça reina.

Para outros, Paraíso significa um tédio completo, onde nada acontece e todos os anjinhos e santos ficam flutuando de um lado para outro, alheios a qualquer coisa que acontece no mundo, e todos com aquele ar de bem-aventurança extra-terrena dos quadros antigos (de não sei que século).

Liberdade é outra coisa que não se conhece direito. A ideia geral é que liberdade é “independência” (mas hein?), é fazer o que der na cabeça, simplesmente seguindo uma vontade interior regida por... sabe-se lá pelo quê. Mas o ideal de quem segue essa definição de liberdade é a anarquia, a desconstrução, o caos. Obviamente, caindo na ilusão de desconsiderar que a consequência dessa falsa liberdade é a auto-destruição.

Ao olhar para essa foto, alguns conseguiram atingir a ousadia de perguntar:
- Mas não é possível ter os dois?
Claro que sim. Vivendo a verdadeira Liberdade, temos também um gosto antecipado do verdadeiro Paraíso. Se somos verdadeiramente livres, vivemos uma condição que será plenamente satisfeita no Paraíso.

A liberdade verdadeira é viver os mandamentos de Deus. Nosso problema é que temos um conceito iluminista de liberdade: no fundo, aceitamos a ideia de que a religião “oprime”! O que de fato nos oprime e tira nossa liberdade é o pecado. É o pecado que está na contramão do Paraíso.

Inquietações e incômodos


Nossas crises nos permitem somar experiências e marcar o caminho dos - digamos - diagnósticos de crise. Essa somatória é de uma riqueza imensa, é como se nossos olhos fossem se abrindo bem devagarinho para as realidades da vida. Refletimos, comparamos, damos um passo, experimentamos.

Um erro comum é não darmos atenção às inquietações que nos atormentam. Coincidentemente, hoje me deparei com dois conteúdos (um artigo e um áudio) que falavam sobre inquietação. Essas duas fontes passavam basicamente esta mensagem: a inquietação é uma graça; e as crises são um despertar.

Suponhamos que você está dormindo num barquinho próximo à margem de um riacho. As águas fazem aquele barulhinho que acalma e embala o sono. Aos poucos as águas começam a fazer mais barulho e começam a perturbar seu sono, até que de repente você acorda assustado e a tempo, pois o barquinho havia se soltado da margem e já estava perto de uma corredeira pedregosa! Aí se tem, graficamente, a importância da inquietação e da crise.

Se não damos atenção à inquietação, a crise nos engole. 

A inquietação tem um papel importante porque nos aponta que algo não está certo. O problema é que facilmente identificamos a causa da inquietação em algum agente externo e não em nós mesmos! Se estamos em desequilíbrio, em desarmonia com Deus, precisando de confissão, essas irritações nos perturbam mais que uma vuvuzela soprada no silêncio de uma biblioteca: ficamos agitados, incomodados no último, e queremos que a coisa cale a boca. Já vamos xingando, sentindo o eco da corneta ressoar no cérebro. Mas nos esquecemos de analisar o motivo da irritação: foram os decibéis no tímpano, foi o susto, ou o quê? Sendo mais clara: reagimos à irritação e ao incômodo espiritual de maneira instintiva e não de maneira espiritual. Deixamos passar a oportunidade de aprender algo com o que nos incomoda. E se o incômodo não nos acorda para o fato de que há algo errado, a crise vai tornar isso bem nítido.

Por tudo isso, o que nos inquieta e incomoda não pode ser rejeitado como algo que não tem nada a ver conosco: precisa ser avaliado, analisado. Por que há coisas que nos incomodam e não incomodam outras pessoas? Por que, sem motivo aparente, o jeito de uma pessoa falar sobre um assunto nos irrita profundamente? Deve haver algum motivo, e raramente a causa disso está no outro: está mesmo em nós. E qual o significado disso? Não é tanto pelo que o outro diz, nem pelo modo de falar, mas é a maneira pela qual recebo o que é dito. Quais conclusões tiro daquilo que ouço e do que fazem? São conclusões corretas ou sou eu que fico interpretando tudo de acordo com o que eu acho que é? Estar errado me incomoda? Ver que os outros conseguem fazer o que está fora de minha capacidade me irrita?

É preciso analisar, identificar as causas, pôr em questão, e tirar disso algumas lições que nos levem um passinho adiante.

Em busca da felicidade


Quando se suspira por felicidade, em geral se suspira por algo que nunca está no mesmo lugar em que nós estamos, seja temporal ou fisicamente. Como se felicidade estivesse sempre “lá longe”; “lá” onde estive ou “lá” onde não estou ainda. Então tentam nos animar com frases que não ajudam em nada e ainda nos fazem sentir culpados por não nos sentirmos felizes sempre.

O mito da felicidade que vivemos hoje tem muito a ver com a cultura atual, e basicamente nos ataca em dois pontos principais:
  1. aponta nosso objetivo de felicidade como um estado em que nada de errado nos acontece.
  2. afirma que o caminho para atingir esse objetivo é pelas coisas sensíveis.

Eu usei a expressão «nos ataca» porque esses dois pontos são de fato um ataque, um atentado à nossa razão e à nossa natureza humana. Pois, seguindo fielmente essas duas indicações, o homem (no sentido de Humanidade) só consegue colher insatisfação.

O homem não tem apenas uma dimensão. Portanto, um estado em que tudo está aparentemente bem - saúde, conforto, realizações pessoais - não significará necessariamente “felicidade”. Não é uma equação matemática: saúde + dinheiro + amor = felicidade. Você pensava que era assim?...

Quando se batalha por um objetivo, colocando nele a esperança de ser feliz, tão logo esse objetivo é atingido, sentimos que a satisfação por tê-lo alcançado não atinge o sentido pleno de felicidade. Isso porque imprevistos, dificuldades, doenças, etc., não são opostos à felicidade real. Então, vamos ter consciência disto:
É ilusão pensar que felicidade é um estado em que está tudo bem, tudo ordenado, tudo sob nosso controle.

Uma vez que o objetivo (item 1) é falso, o meio para se chegar a ele (item 2) é duplamente falso! As coisas sensíveis - sensações, posses, prazeres - não trazem felicidade. Vamos anotar nas paredes, se preciso for:
Prazer é físico. Felicidade é espiritual.
Portanto, não se alcança a felicidade por meio do prazer!

(detalhes sobre isso na Terapia de Doenças Espirituais )
O prazer é passageiro. Quem pratica esportes, sabe que a sensação prazerosa do exercício físico feito segunda-feira de manhã não dura até segunda-feira à noite: é algo físico! E com todos os outros meios de conseguir prazer é a mesma coisa: a sensação de prazer não dura! Mais que isso: conforme o tipo de prazer escolhido para se buscar a felicidade, além da insatisfação pelo prazer que não dura, nos vêm ainda as consequências físicas e morais: doenças, dependência química, decadência (moral e financeira), depressão, e até suicídio - e nada disso resolve “o problema” de se encontrar a felicidade.

Queridos! Estas crises que temos com relação à busca da felicidade são para nos livrarmos dessas ilusões malignas. Felicidade sem Deus, não existe. Para quem tem fé, felicidade é estar em harmonia com Deus; para quem não tem fé, também! Não há felicidade sem se cumprir os Mandamentos de Deus - e eu me pergunto se alguém neste mundo tem conseguido cumpri-los realmente! Mas o empenho em viver segundo o que Deus nos ordena para nosso bem, já é caminho para a verdadeira felicidade.

Essa busca de felicidade, intrínseca no homem, é a busca de Deus. Veja bem então “o quê” você está buscando: Deus! Agora veja bem se você está usando o caminho certo para encontrá-lO.

Dor de crescimento


Sinto informar que também existe a “dor de crescimento” espiritual.

Alguns adolescentes sofrem a dor do crescimento físico. Mas todos - jovens, adultos, velhos - invariavelmente sofrem a dor do crescimento espiritual.

Quando isso acontece, já se viveu uma experiência inicial com Deus, houve o primeiro enamoramento e um tempo de caminhada com Ele, num período em que tudo parece cheio de cores, flores e amores. Porém, logo em seguida Deus nos traz à realidade, para que lancemos raízes mais profundas e saiamos do sentimentalismo; Ele nos dirige a uma espiritualidade encarnada no dia-a-dia. E isso nos traz muita dor, porque queremos ficar sempre no colo que nos oferece leitinho quente... não queremos ter que andar até a cozinha para nos alimentar, não queremos descer o Tabor das visões celestes. Estamos sempre beirando o perigo de escolher as fantasias em detrimento da realidade, e no entanto é ela que verdadeiramente nos faz crescer.

Tudo isso dói, e para essa dor não há relaxante muscular que ajude. Você pode tentar afogá-la de algum jeito, por exemplo seguindo as fugas clássicas do ativismo, do muito beber, do culto ao corpo, das emoções que dão “adrenalina”. O resultado dessas fugas é o aumento do vazio, da falta de sentido em tudo. O mundo inteiro não preenche sua necessidade. Nada preenche. Faz muito sentido que nada satisfaça de maneira permanente, porque sua sede e fome têm uma dimensão espiritual que não se satisfaz com lixo!

Mas há outras fugas, bem mais sutis e que são facilmente aceitas pelo nosso orgulho, e com elas procuramos justificar nossa moleza na hora de rezar, nosso desânimo ao cumprir as tarefas mais simples, e até nossa falta de caridade para com os mais próximos:

  • começamos a nos queixar de que o ambiente ou a situação em que vivemos não favorece nossa espiritualidade;
  • pensamos que se outras pessoas estivessem por perto, seria tudo mais fácil e prazeroso;
  • olhamos para trás, na esperança de recuperar alguma coisa (status, por exemplo) que tememos perder se seguirmos adiante;
  • ficamos desanimados quando olhamos o momento presente, comparando-o com as fantasias pessoais que julgamos ser melhores do que a realidade.
Em resumo, não assumimos o “hoje”, a realidade do agora; ficamos suspirando e gemendo pela fantasia que queríamos viver. Com isso, fazemos força no sentido contrário ao que deveríamos ir: para frente, sempre adiante! Assim, lutamos contra nós mesmos, ficamos sempre cansados e tudo pesa.

Parte do crescimento é justamente este: viver o hoje, aceitar e assumir a realidade do momento presente. Viver a integralidade do agora.

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