«Criticômetro» ligado a mil


Um sintoma de crise pode ser percebido pela atividade anormal do «criticômetro». Esse mecanismo, que costuma estar ativo em níveis aceitáveis, passa a ser alimentado pelas caldeiras conjuntas do egoísmo, auto-piedade e orgulho, chegando a um ponto insuportável para a própria pessoa, com consequências desastrosas que geralmente se desejaria esquecer - e que os outros fizessem o mesmo.

Tudo começa com uma sugestão íntima a respeito de sua própria importância ou de seu próprio querer. É importante notar que essa sugestão necessariamente precisa ser o ponto essencial de todas as medidas que serão tomadas, a partir daí, pelo «criticômetro». Sua alta precisão em medições e comparações será ajustada justamente por esse critério.


Não é difícil colocar o «criticômetro» nesse ponto de ajuste, uma vez que nossa capacidade de auto-indulgência é aparentemente inesgotável quando nossas próprias medidas nos indicam que estamos com a razão. Não somente nós estamos com a razão, é claro: também consideraremos certos e justos aqueles que apoiarem nossos argumentos fundados nesse infalível instrumento.

Eu poderia continuar esta descrição de muitas maneiras, mas como acabei de ter meu «criticômetro» reajustado na base do susto, paro por aqui. Meu maior desejo neste momento é que reconheçam esta mesma situação em suas vidas, e usem o quanto antes o bendito antídoto que é a humildade: ela literalmente acalmará os elementos revoltos em seu coração.

É impossível para nós, numa tal circunstância, ser realmente humildes, mas uma gota de lucidez poderá nos valer e então pediremos socorro à Mãe de Todas as Graças que, aflita com nossa cegueira, nos socorrerá de imediato, derramando em nós Sua própria humildade.

Por favor, marquem bem estas coisas, e clamem por Nossa Senhora tão logo aconteçam. Verifiquem quando ocorre:

  • uma elevação no nível de críticas às outras pessoas;
  • insatisfação baseada em desejos próprios que não são atendidos;
  • grande capacidade em argumentar, desculpando os próprios erros;
  • maior capacidade ainda em descobrir novos motivos de acusação contra outras pessoas.
E pense bem: não é por aí que você vai resolver uma situação difícil, uma angústia, um sofrimento. Aceite o processo de crise com docilidade, porque algo de bom sairá disso. Mesmo se seu «criticômetro» ficar desregulado pela raiva (=orgulho), pela decepção (=orgulho ferido) etc., coloque tudo diante da misericórdia de Deus e não diante de sua própria justiça.

O que você espera de Deus?



Essa é uma causa de nossas crises. Muito de nosso sentimento de estar perdido, sem direção, sem saber o que fazer, está radicado nisso: o que você espera de Deus?

Interessante é ver que algumas pessoas ficam mudas, como que pensando: "...mas, afinal de contas, o que eu quero de Deus, mesmo? nunca pensei nisso!"

Ficamos como boiada disparada atrás de... atrás do quê, mesmo?

Tanta pressa, tanta coisa a fazer... para quê, mesmo?

Estou correndo atrás do quê?
Qual o objetivo disso?
Qual o sentido da minha vida?

É espantoso, mas raramente temos uma resposta imediata a essas perguntas, simplesmente porque não pensamos nisso!

Fica um vazio, é claro: instintivamente buscamos um sentido nas situações, mas neste envolvimento cego nos afazeres, na satisfação de necessidades - até as mais urgentes e legítimas -, perdemos alguma coisa. Perdemos o objetivo, o sentido.

Acontecendo isso, perdemos o centro da questão, o Norte que indica o caminho a seguir. E aí já nem sabemos o que queremos de Deus: queremos uma noite bem dormida, uma comida gostosa, a cura de uma doença, a solução de um problema... O que esperamos dEle?

E a questão se complica, porque se não sabemos o que esperamos de Deus, é porque não esperamos nada dEle: não contamos com Ele! No nosso envolvimento cego nas coisas, nos problemas a resolver, nas questões urgentes, Ele não importa! Não temos tempo de vê-lO, ouvi-lO... e se Lhe falamos, só Lhe oferecemos uma lista de petições vazias, porque são extremamente sem importância, por mais urgentes e necessárias que nos pareçam. Não perguntamos mais a Ele o que devemos esperar dEle!

Pior ainda, nessa situação Deus acaba Se tornando apenas um detalhe. No menos grave dos casos, talvez Se torne para nós o tão citado gênio da lâmpada, que tem por obrigação nos atender os pedidos, sempre, para que um dia seja enfim libertado da servidão aos homens!

Nesse momento, a graça de Deus nos lançará numa crise, numa bendita crise que nos pare nessa corrida desabalada para o nada, e nos abra os olhos para que paremos de esperar soluções e coisas de Deus... e nos demos conta de que o melhor a esperar dEle é Ele mesmo.

Quaresma, tempo da


Acho que poucas vezes vivi uma Quaresma como esta: sem conseguir fazer realmente algum propósito definido, e aquilo que foi mais nitidamente proposto, não foi cumprido! Mesmo nos dias em que pensei "A partir de hoje vou fazer isso", quando dei por mim já estava caindo de sono e dormia com o terço enrolado na mão.

Pouca oração, pouco estudo, penitência nível 0,45. Que coisa! Mas serviu para conhecer melhor minha miséria: nada consigo por mim mesma, nem o mínimo esperado. Só mesmo pela graça de Deus consigo ser e fazer.

Por sinal, a Quaresma ainda não terminou. Deus pode fazer muito em pouco tempo, por isso acredito que ainda conseguirei - com a graça divina - aproveitar bem este tempo de penitência e conversão.

© 2010 Benditas crises! |Blogger Author BloggerTheme | Free Web Hosting | Blogger Templates | Business Credit Cards
powered by Blogger | WordPress by camelgraph | Converted by BloggerTheme.