Inquietações e incômodos

Nossas crises nos permitem somar experiências e marcar o caminho dos - digamos - diagnósticos de crise. Essa somatória é de uma riqueza imensa, é como se nossos olhos fossem se abrindo bem devagarinho para as realidades da vida. Refletimos, comparamos, damos um passo, experimentamos.

Um erro comum é não darmos atenção às inquietações que nos atormentam. Coincidentemente, hoje me deparei com dois conteúdos (um artigo e um áudio) que falavam sobre inquietação. Essas duas fontes passavam basicamente esta mensagem: a inquietação é uma graça; e as crises são um despertar.

Suponhamos que você está dormindo num barquinho próximo à margem de um riacho. As águas fazem aquele barulhinho que acalma e embala o sono. Aos poucos as águas começam a fazer mais barulho e começam a perturbar seu sono, até que de repente você acorda assustado e a tempo, pois o barquinho havia se soltado da margem e já estava perto de uma corredeira pedregosa! Aí se tem, graficamente, a importância da inquietação e da crise.

Se não damos atenção à inquietação, a crise nos engole. 

A inquietação tem um papel importante porque nos aponta que algo não está certo. O problema é que facilmente identificamos a causa da inquietação em algum agente externo e não em nós mesmos! Se estamos em desequilíbrio, em desarmonia com Deus, precisando de confissão, essas irritações nos perturbam mais que uma vuvuzela soprada no silêncio de uma biblioteca: ficamos agitados, incomodados no último, e queremos que a coisa cale a boca. Já vamos xingando, sentindo o eco da corneta ressoar no cérebro. Mas nos esquecemos de analisar o motivo da irritação: foram os decibéis no tímpano, foi o susto, ou o quê? Sendo mais clara: reagimos à irritação e ao incômodo espiritual de maneira instintiva e não de maneira espiritual. Deixamos passar a oportunidade de aprender algo com o que nos incomoda. E se o incômodo não nos acorda para o fato de que há algo errado, a crise vai tornar isso bem nítido.

Por tudo isso, o que nos inquieta e incomoda não pode ser rejeitado como algo que não tem nada a ver conosco: precisa ser avaliado, analisado. Por que há coisas que nos incomodam e não incomodam outras pessoas? Por que, sem motivo aparente, o jeito de uma pessoa falar sobre um assunto nos irrita profundamente? Deve haver algum motivo, e raramente a causa disso está no outro: está mesmo em nós. E qual o significado disso? Não é tanto pelo que o outro diz, nem pelo modo de falar, mas é a maneira pela qual recebo o que é dito. Quais conclusões tiro daquilo que ouço e do que fazem? São conclusões corretas ou sou eu que fico interpretando tudo de acordo com o que eu acho que é? Estar errado me incomoda? Ver que os outros conseguem fazer o que está fora de minha capacidade me irrita?

É preciso analisar, identificar as causas, pôr em questão, e tirar disso algumas lições que nos levem um passinho adiante.

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